Governo mexicano ameaça conter protestos

Empresários se queixam de prejuízos causados pela onda de manifestações pelo desaparecimento de estudantes

IGUALA, México – O governo mexicano advertiu que vai conter os protestos pelo desaparecimento de 43 jovens na cidade de Iguala, ocorrido no dia 26 de setembro. “Viemos trabalhando por meio do diálogo, mas também o diálogo tem uma tolerância, quando se afetam os direitos dos outros”, disse o secretário do Governo (equivalente ao ministro-chefe da Casa Civil), Miguel Ángel Osorio Chong, em reunião com empresários mexicanos, que foram se queixar dos prejuízos causados pela onda de manifestações no país.

Chong acrescentou que todos têm o direito de se expressar, mas que serão tomadas as medidas necessárias para impedir abusos. Ele argumentou que não são os pais das vítimas, mobilizados para pressionar o governo a descobrir o paradeiro de seus filhos, que estão convocando manifestações violentas, mas sim grupos radicais: “Os pais de família e todos nós queremos encontrar os jovens, queremos saber a verdade e queremos que se castigue quem cometeu esses delitos, e não estão chamando nem à violência nem a esse tipo de ações que prejudicam o resto da sociedade”.

Mais de 100 representantes dos empresários participaram do encontro com o secretário. Eles se queixaram dos prejuízos causados por saques de empresas e de caminhões e pelo bloqueio de estradas. Segundo os empresários, no Estado de Guerrero, os motoristas de 246 caminhões e 42 ônibus foram “sequestrados” pelos manifestantes, desde o desaparecimento dos estudantes, há menos de dois meses. Eles afirmam que 130 mil empresas são afetadas pelos distúrbios no Estado. Em Acapulco, balneário localizado em Guerrero, cujo aeroporto foi bloqueado três vezes pelos manifestantes na semana passada, as reservas de hotéis caíram 70%.

“Há grupos radicais aos quais não convém que o México tenha crescimento, investimentos, que se gerem empregos e melhores oportunidades, porque esse é o seu mercado”, acusou o presidente do Conselho Coordenador Empresarial, Gerardo Gutiérrez Candiani. Ele pediu que o governo atue “de maneira firme”.

Chong negou que o governo federal tenha demorado a agir depois do desaparecimento dos estudantes: “Chegamos no momento em que a lei permitia, chegamos de maneira imediata”. Os chamados “desaparecimentos”, que na verdade são execuções, em geral cometidas por narcotraficantes e forças policiais atuando de forma clandestina, tornaram-se comuns no México. Enquanto se buscavam os estudantes, foi encontrada uma vala comum com 38 corpos, que eram de outras vítimas. Embora o Estado de Guerrero e a cidade de Iguala, onde ocorreu o massacre, fossem governados pelo Partido da Revolução Democrática (PRD), de oposição, o caso provocou manifestações contra o governo do presidente Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), acusado de não ter adotado medidas para conter o crime organizado e o seu envolvimento com a polícia.

O governador de Guerrero, Ángel Aguirre, foi afastado do cargo no dia 24 de outubro. O prefeito de Iguala, José Luis Abarca, e sua mulher, María Ángel Pineda, foram presos no dia 4. O prefeito destituído foi acusado pelo Ministério Público de ordenar à Polícia Municipal que impedisse os estudantes de se manifestar durante a festa de apresentação, pela primeira-dama, de seu relatório de gestão do DIF, o órgão de assistência social por ela dirigida. María Ángel pretendia candidatar-se a prefeita nas eleições de 7 de junho do ano que vem. A polícia recebeu a tiros os três ônibus que traziam os estudantes no Zócalo, a praça central da cidade onde se realizava a festa. Os ônibus foram perseguidos até a periferia da cidade, onde foram alvos de intensos disparos.

A Polícia Federal prendeu mais um integrante do cartel Guerreros Unidos. Identificado como Isaac Patiño Vélez, ele seria um colaborador estreito de Gildardo Hernández Astudillo, “El Gil”, a quem a Polícia Municipal teria entregado os estudantes, que foram mortos e queimados no lixão de Cocula, a 20 km de Iguala. Ao menos outros 17 integrantes do cartel já haviam sido presos, incluindo Sidronio Casarrubias, considerado o chefe da organização. Também estão presos 36 policiais municipais – 22 de Iguala e 14 de Cocula, segundo a Procuradoria-Geral da República.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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