Construção de rede interligando sete países, inclusive o Brasil, será anunciada na reunião de cúpula do Mercosul, na sexta-feira
CARACAS – O ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, finalizou ontem em Caracas os detalhes de um acordo para a construção de uma rede de gasodutos interligando sete países: Brasil, Venezuela, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai. A rede terá 10 mil quilômetros de extensão, e sua construção custará US$ 20 bilhões. O anúncio do memorando de entendimento para a “grande interligação gasífera regional” será feito na sexta-feira, na reunião de cúpula do Mercosul em Montevidéu, da qual participará também o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
A malha de gasodutos deverá levar cinco anos para ser construída, e, depois de pronta, terá uma vida econômica de 25 anos. Com exceção do Uruguai, a maioria dos países é ao mesmo tempo consumidora e produtora de gás. Assim, a rede criará uma espécie de “condomínio”, no qual os países produtores poderão colocar o seu gás no mercado comum, incentivando a sua comercialização.
A construção do “grid”, como é chamada a malha de dutos, deverá modificar a composição da matriz energética brasileira. “O gás é a segunda fonte mais barata de energia elétrica”, disse Rondeau ao Estado. “E é uma fonte de energia limpa, já que praticamente todo o gás é queimado, gerando menos problemas ambientais do que outras opções.” A fonte mais barata, a hidrelétrica, requer grandes investimentos de longa maturação, e tem forte impacto ambiental.
O gás venezuelano terá um peso desproporcional nesse condomínio. O país dispõe de 150 trilhões de pés cúbicos (tpc) de reservas provadas, e estima-se que elas possam chegar a 200 tpc. A Bolívia, grande fornecedora de gás do Brasil, tem reservas provadas de 27 tpc, podendo chegar a 35. No Brasil, as reservas provadas são de 8,5 tpc, e a meta é alcançar 11 tpc.
As primeiras licenças de exploração do gás natural venezuelano, no chamado Projeto Rafael Urdaneta, foram a leilão em outubro. Os ganhadores foram a companhia russa Gazprom e a americana Chevron. No mês passado, foram realizados novos leilões, vencidos pela Petrobrás-Teikoko, pela Chevron, pela hispano-argentina Repsol-YPF e pela venezuelana Winkler Oil. As licenças têm duração de 30 anos. Dos 29 blocos, 18 estão situados no Golfo da Venezuela e 11 na Península de Paraguaná, ambos no noroeste do país.
Chávez tem colocado bastante ênfase na necessidade de explorar o gás natural venezuelano, atenuando um pouco a dependência da economia do país na exportação de petróleo. Estima-se que, dentro de 50 anos, o valor das exportações de gás se equiparará às de petróleo. Para o militante presidente venezuelano, o gás tem um valor estratégico-ideológico.
Dos 2,65 milhões de barris diários exportados pela Venezuela, 1,35 milhão são vendidos para os Estados Unidos. Vendendo gás para os vizinhos sul-americanos, Chávez anseia não só criar novas fontes de divisas, mas também reduzir a importância relativa dos laços comerciais com os EUA.