Bush propõe a Lula uma cúpula no Brasil

Em encontro na Casa Branca, presidente americano sugere reunião durante a primavera 

 

 

WASHINGTON – O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, propôs ontem ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, a realização de uma reunião de cúpula durante a primavera, que no Hemisfério Norte ocorre entre março e maio. Aparentemente, Bush quer realizar o encontro no Brasil, pois disse que não gosta muito de viajar nem aprecia esse tipo de evento, mas que nesse caso gostaria de abrir uma exceção.

Lula convidou então Bush a ir ao Brasil e a visitar, além de Brasília, o Pantanal. Descontraído, o presidente americano respondeu que poderia “surfar” em alguma praia brasileira, realçando que o País tem muitas coisas para ver. Ao sair da reunião de uma hora no Salão Oval da Casa Branca, Lula disse que o encontro esteve “muito acima da expectativa”. E acrescentou que o Brasil precisa ser “mais ousado” em suas “relações com o mundo”.

Bush prometeu ajuda no combate à fome, e Lula pediu também empenho no restabelecimento das linhas de crédito para o Brasil, embora reconhecendo que isso não depende só do governo americano. O presidente americano respondeu que, a partir de janeiro, os EUA acompanharão de perto as decisões do novo governo brasileiro na área econômica e poderão participar do esforço para a restituição das linhas de crédito.

“A (minha) impressão foi a melhor possível”, disse Lula ao sair do Salão Oval da Casa Branca, numa rápida e entrevista coletiva com jornalistas brasileiros, americanos e de outros países da América Latina. Segundo o presidente eleito, Bush demonstrou “muito boa vontade para com o Brasil”, e estar “disposto a dedicar um tempo para que seu governo se relacione da forma mais profícua” com o País. “E, como nós brasileiros temos o interesse de aprofundar essa relação, vamos tratar isso com muito carinho”, completou Lula.

“Vamos fazer com que essa relação possa melhorar.” O presidente eleito disse que Bush propôs “uma agenda comum entre os dois governos”, e acrescentou: “A partir de janeiro, poderíamos fazer uma reunião de cúpula dos dois governos para discutir os problemas que nos interessam.” Mais tarde, o porta-voz André Singer explicou que a idéia é que o encontro já comece a ser organizado, mas que a época proposta por Bush é a primavera. O presidente americano demonstrou pressa na formação do grupo de trabalho para estruturar o encontro.

“Estou convencido de que as relações brasileiras com o mundo têm de ser mais ousadas, não só do ponto de vista comercial, que nos interessa muito, mas do ponto de vista cultural e político”, declarou Lula. “Eu disse ao presidente Bush que o governo brasileiro tem interesse em aprofundar sua relação com os EUA, mas com toda a América do Sul.” O Brasil, continuou, “pode contribuir não só para o desenvolvimento da América do Sul, para a manutenção da paz e no combate ao narcotráfico, mas sobretudo para tentar diminuir a miséria do nosso continente”.

Lula disse que os dois conversaram sobre o programa Fome Zero, um tema que, segundo ele, “tem recebido solidariedade de todas as pessoas” com quem tem falado depois das eleições: “Ficou clara a solidariedade e a ajuda para uma política desse nível. E acho que não só o combate à fome, mas eu disse ao presidente Bush que, embora seja um problema do sistema financeiro, o governo americano pode contribuir para que as vias de crédito não se fechem ao Brasil.”

Segundo o porta-voz André Singer, o encontro transcorreu em clima bastante descontraído. “Houve empatia em um ponto fundamental: ambos falaram do coração, com sentimento, e também com franqueza”, disse o porta-voz.

Bush chegou a ensaiar algumas palavras em espanhol, e interrompeu Lula algumas vezes para manifestar sua concordância com um “muito bem” – por exemplo, quando o presidente eleito explicou que seria inflexível na defesa dos interesses brasileiros, assim como fazem os EUA, mas que seria leal no cumprimento dos acordos. Segundo Singer, Bush respondeu que era obrigação do futuro governo ser duro nas negociações.

O presidente americano ressaltou que foi a primeira vez que um presidente eleito do Brasil era recebido na Casa Branca. O encontro estava previsto para durar meia hora e se alongou para o dobro disso, o que também é bastante raro, segundo os assessores americanos.

Bush estava acompanhado do secretário de Estado, Colin Powell; da assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleeza Rice; do representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Zoellick, e da embaixadora americana em Brasília, Donna Hrinak. Com Lula, estavam o futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, o senador eleito Aloizio Mercadante, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e o embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, além de Singer e do intérprete. 


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