Melhores índices de aceitação do governo estão na população beneficiada
O cruzamento de várias pesquisas de opinião sugere que os programas sociais do governo federal e o Bolsa Família em particular têm servido de âncora para a popularidade do presidente Lula. Na última pesquisa do Ibope, feita em setembro, a região que deu o maior índice de aprovação ao governo Lula – 56% – foi o Nordeste, que absorve quase metade dos recursos do Bolsa Família: 49,2%. Das 13,999 milhões de famílias que vivem no Nordeste, 3,705 milhões, ou 26%, recebem o Bolsa Família.
As regiões Norte e Centro-Oeste ficam em segundo lugar tanto em aprovação do governo Lula quanto em proporção de atendimento das famílias. Nessas duas regiões, 50% aprovam o governo Lula e 14% das famílias recebem o benefício. Sudeste e Sul têm os menores índices de aprovação do governo e de atendimento das famílias (ver gráfico).
Os dados são coerentes com o grau de satisfação em relação ao combate à fome e à pobreza nas diversas regiões. No Nordeste, a aprovação do desempenho do governo nesse quesito é ainda maior do que a sua aprovação no geral: 60%. A fatia de aprovação cai para 37% no Sul e 35% no Sudeste. No Norte/Centro Oeste, é de 45%, o mesmo índice da desaprovação. Não é um mau resultado, considerando que o próprio governo reconhece que o atendimento das famílias pobres no Norte está muito aquém do desejável, devido às distâncias e dificuldades de transportes na região.
Pesquisa feita em dezembro pelo Instituto Sensus, com as cinco regiões separadas, reflete a maior satisfação no Centro-Oeste que no Norte. No Centro-Oeste, 62,8% dos entrevistados disseram que os programas sociais do governo “são positivos e ajudam”, enquanto no Norte esse índice cai para 52,6%. O campeão de satisfação, mais uma vez, foi o Nordeste, com 65,4%. Sul e Sudeste, como sempre, ficaram abaixo, com 45,3% e 49,9%, respectivamente.
O relativo sucesso dos programas sociais pode ser medido também pelo fato de que as camadas da população com renda mais baixa e menor grau de instrução, que afinal representam o público-alvo dos programas sociais do governo, são exatamente as que mais os aprovam. Dos entrevistados sem instrução ou só com o primário, 61,0% responderam ao Sensus que esses programas “são positivos e ajudam”, enquanto apenas 35,4% dos que têm nível superior assinalaram essa opção. Dos que têm renda familiar de até 1 salário mínimo, 60,0% deram essa resposta; acima de 20 salários, 27,8%.
Na pesquisa do Ibope, dos que têm renda familiar de até 1 salário mínimo, 49% aprovam “a atuação do governo no combate à fome e à pobreza”; de 1 a 2, 48%. Nessas duas faixas, a fatia dos que aprovam é maior do que a dos que desaprovam. Nas faixas seguintes, a relação se inverte, de forma crescente.
Como se sabe, a aprovação do governo Lula como um todo também está ancorada nos mais pobres e menos instruídos. Somente entre os que têm renda familiar de até um salário mínimo é que a aprovação do governo supera a desaprovação: 54%. Na faixa de 1 a 2 salários mínimos, a aprovação é de 45%, e vai caindo continuamente, até chegar a 37%, entre os que têm renda familiar superior a 10 salários mínimos.
As três sucessivas derrotas de Lula à presidência, em 1989, 1994 e 1998, se deveram, em grande medida, à sua dificuldade de conquistar as camadas mais pobres e menos instruídas. Defeito fatal, num país pobre e pouco instruído. Em 2002, Lula superou esse problema, e teve uma votação homogênea ao longo do espectro social. À medida que desencanta os mais instruídos e os de melhor renda – incluindo uma classe média intelectualizada que antes o paparicava -, Lula precisa ampliar seu apoio entre os mais pobres, para se viabilizar em 2006. É essa a missão do Bolsa Família e dos outros programas de renda mínima.