Colombianos divergem sobre riscos para vizinhos

Analistas veem razões estratégicas para temor do Brasil, mas apontam contradições na política regional de Lula

 

Com sua vasta fronteira de 1.643 km com o Brasil, a Colômbia anunciou que cederá até sete bases para o uso de militares americanos. O nervosismo causado nos vizinhos levou o presidente Álvaro Uribe a um giro por seis países da região, na semana passada. Os especialistas colombianos divergem, no entanto, sobre se o acordo representa riscos para vizinhos como Brasil e Venezuela. 

“Eu me coloco no lugar do Ministério da Defesa do Brasil e imagino que estejam examinando o tema da Amazônia, fundamental do ponto de vista estratégico”, diz o coronel da reserva Carlos Alfonso Velásquez, professor de ciência política na Universidade de La Sabana, em Bogotá. “Claro que há 

razão para preocupar-se.” Longe de ser um analista de esquerda, Velásquez observa que a inteligência militar americana se instalará “muito próximo dos recursos estratégicos” da Amazônia brasileira. 

O coronel relaciona a sensibilidade brasileira com as periódicas propostas de “internacionalização” da Amazônia. “Imagine se no dia de amanhã os Estados Unidos dizem: ‘A Amazônia é estratégica para todo o mundo, mas lamentavelmente temos mapas mostrando que estão plantando coca e derrubando florestas. Os países da região não cuidam suficientemente dela. Necessitamos 

que o mundo a proteja.” Para Velásquez, “os EUA vêm para ajudar a Colômbia, mas também para projetar o seu poder militar sobre o continente sul-americano”. 

Já Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia, de Bogotá, não acredita que os vizinhos da Colômbia tenham por que preocupar-se. “O acordo inclui garantias de que os sobrevoos não afetarão terceiros países”, argumenta ele. “As tripulações terão sempre a participação de militares colombianos e todos os resultados da coleta de informações serão entregues 

imediatamente ao governo colombiano.” Rangel lembra que há dez anos os americanos atuam na base de Três Esquinas, no sul do país, como parte dos acordos do Plano Colômbia, e nunca houve problemas.

“A reação do presidente Lula causou estranheza”, descreve o analista. “O Brasil nunca se pronunciou contra a presença americana na base de Manta ( Equador), contra esses dez anos de cooperação com a Colômbia, contra o apoio do governo venezuelano à guerrilha das Farc nem contra os acordos militares da Venezuela com a Rússia, a China e o Irã”, enumera Rangel. “O Brasil 

firmou com a França acordo sobre submarinos de propulsão nuclear sem que os países da região pedissem explicações. É uma atitude assimétrica demais.”

Em entrevista ao Estado, publicada ontem, o vice-ministro da Defesa da Colômbia, Sergio Jaramillo, garantiu que a soberania dos países vizinhos será respeitada, e que o controle sobre as bases continuará sendo colombiano.

 

Andrés Villamizar, pesquisador colombiano no centro de estudos Rand Corporation, da Califórnia, afirma que a presença dos aviões americanos terá efeito dissuasivo sobre a Venezuela, neutralizando os caças SU-30 que o país comprou da Rússia. “A Venezuela não poderia mais ameaçar a Colômbia com seus Sukhois, se na Colômbia houver caças F-15 e F-16 americanos”, analisa Villamizar. “Os aviões americanos não vão atacar a Venezuela, mas terão impacto no equilíbrio geoestratégico.” 

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