Emigrantes enviaram US$ 1,25 bilhão para o país

Equatorianos no exterior mandaram para casa, no ano passado, valor que corresponde a 9% do PIB

QUITO — As antigas casas de câmbio de Quito ingressaram no negócio mais próspero do Equador: o recebimento de dinheiro dos equatorianos no exterior para seus familiares no país. No último ano, o montante enviado pelos cerca de 600 mil emigrantes (4,6% da população de 13 milhões) foi estimado em US$ 1,25 bilhão, ou 9% do PIB de US$ 14 bilhões. O ingresso de divisas só é superado pelo petróleo, o principal produto de exportação do país.

O alto preço do petróleo, que rendeu ao Equador cerca de US$ 2,4 bilhões em 2000, e a entrada maciça de dinheiro dos migrantes, explicam o saldo positivo na conta corrente, que, no acumulado dos três primeiros trimestres de 2000 (o dado mais atual do Banco Central do Equador), estava um pouco acima de US$ 1 bilhão. A dívida externa está em US$ 11,16 bilhões, 80% do PIB.

As transferências dos emigrantes representam um choque brutal de liquidez na economia, principal responsável pelo crescimento do PIB de cerca de 1% no ano passado (depois de encolher 7,3% em 1999) e provavelmente com algum papel também na inflação de 97%.

Para o economista Marco Naranjo, do Banco Central, cuja tese de doutorado serviu de base para a dolarização, o que houve em 2000 foi reposição de preços resultante da alta de 300% do dólar em relação ao sucre no ano anterior à dolarização. Naranjo estima que os preços subirão mais 30% este ano, no rastro dessa reposição, para chegar à inflação de um dígito em 2002.

O presidente da Federação do Comércio do Equador, Fernando Navarro, concorda. “O dólar estava cotado a 5 mil sucres semanas antes da dolarização. Fizemos nossos estoques com essa cotação e depois tivemos de aumentar os preços para pagar as encomendas.”

Segundo Navarro, as vendas aumentaram cerca de 25% no ano passado – graças ao dinheiro dos emigrantes, admite ele. O setores mais beneficiados foram o de automóveis e o de eletrodomésticos. O ramo imobiliário também está aquecido. Já o consumo da cesta básica se manteve estável, apesar dos aumentos constantes. Navarro projeta um crescimento do PIB de 5% para este ano e de 8% para 2002, impulsionado pela construção de um oleoduto, três hidrelétricas e sistemas de irrigação.

O setor financeiro está bem menos à vontade que o comércio. “Para os bancos, a dolarização foi um choque bastante duro”, diz o presidente da Associação dos Bancos Privados do Equador, Fernando Vivero Losa. Acostumados a taxas de juros de até 70% para empréstimos aos clientes e 45% de remuneração dos fundos de investimento, os banqueiros tiveram de se acomodar a taxas referenciais de 16% e 7%, respectivamente, e uma taxa básica de 14%.

“Além disso, praticamente acabou o negócio do câmbio”, observa o banqueiro.

“Tivemos de fazer um giro de 180 graus.” Os bancos estão tendo de aprender a ganhar dinheiro com comissões sobre garantias e taxas de serviços. “Temos de nos tornar mais eficientes”, diz Vivero Loza, vice-presidente-executivo do Produbanco.

Em dezembro de 2000, comparado com dezembro de 1999, houve aumento de US$ 1 bilhão em depósitos e investimentos (depois de uma saída de US$ 2,5 bilhões no ano anterior). Mas a carteira de crédito só cresceu cerca de US$ 50 milhões. “Não houve relação entre o que se captou e o que se emprestou, pela falta de projetos”, explica Vivero Loza.

Muitos projetos foram suspensos pelo fato de o BC ter perdido o papel de emissor e não poder mais oferecer garantias dos empréstimos. A obra de um corredor de ônibus em Quito inspirado no sistema de Curitiba terminou há seis meses, mas ele está fechado porque os ônibus não puderam ser comprados.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil segurou o crédito de US$ 11 milhões por falta de garantia. A hidrelétrica de San Francisco, obra de US$ 130 milhões com participação da Odebrecht, nem começou pelo mesmo motivo. O Brasil ia fornecer US$ 33 milhões em equipamentos para a Polícia Nacional do Equador, mas o crédito também foi cortado.

De janeiro a novembro, o Equador importou US$ 115,1 milhões do Brasil e exportou US$ 15,5 milhões. A dolarização não afetou a balança comercial do Equador. Entre janeiro e novembro, as exportações foram de US$ 4,4 bilhões (para US$ 4 bilhões no mesmo período de 1999) e as importações, US$ 3,1 bilhões (US$ 2,7 bilhões nesses 11 meses do ano anterior).

Mas deve tornar a eficiência uma questão crítica. “Acabou o recurso da desvalorização cambial para tornar os produtos mais competitivos, e não vejo nenhuma iniciativa por parte do governo e dos empresários para aumentar a produtividade”, diz o economista Oswaldo Davila, secretário do Planejamento entre 1984 e 88.

Já o presidente da Federação do Comércio, ele mesmo um bem-sucedido exportador de morango congelado para os EUA, acha que o Equador se afirmará como um país competitivo dentro de sua vocação: as frutas e a agropecuária.

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