Não há reforma econômica sem abertura política

Analista de Xangai vê privatização com otimismo, mas pede cautela contra corrupção e desemprego

O professor Zhu Mingquan, vice-diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade de Fudan, em Xangai, manifesta otimismo, ainda que moderado, diante do desfecho do 15º Congresso do Partido Comunista Chinês. Segundo esse cientista político, habituado a traduzir eventos chineses para interlocutores ocidentais, há sinais de algum progresso rumo a uma abertura política. Até porque, na sua opinião, a estratégia de conciliar reformas econômicas com o atual regime político é insustentável.

Uma entrevista on the record com uma figura pública na China é sempre uma operação delicada e o seu conteúdo deve ser contextualizado. Sob um regime que exerce controle estrito sobre tudo o que se diz e se faz, Zhu Mingquan, como pesquisador de um grande centro, não pode dizer tudo o que pensa. Entretanto, seu posto de observação é privilegiado: Xangai é a base política do presidente Jiang Zemin e do “czar da economia”, Zhu Rongji. Ao mesmo tempo, a distância física de Pequim confere-lhe alguma liberdade de movimentos. Nessa entrevista exclusiva ao Estado, via Internet, Zhu Mingquan testa os limites da própria liberdade:

Estado – Alguma coisa o surpreendeu no que foi divulgado sobre o congresso?

Zhu Mingquan – Duas coisas: o fato de terem retirado todos os cargos de Qiao Shi, incluindo o de membro do Comitê Central, e de não haver nenhum militar entre os sete novos membros do Comitê Permanente do Politburo.

Estado – Como isso pode ser interpretado?

Zhu – Embora eu não tenha informações de bastidores confiáveis sobre essas coisas, falando genericamente acho que significam algum progresso na direção do desenvolvimento democrático, na medida em que líderes de alto escalão se vão aposentando.

Estado – O que o senhor espera da decisão de vender ou declarar a falência de parte das empresas estatais?

Zhu – É uma experiência muito corajosa, ditada pelas necessidades de mais desenvolvimento econômico. Por outro lado, espero que possa ser feita cautelosamente, de modo a evitar, pelo menos parcialmente, dois efeitos negativos possíveis: a corrupção, por meio da qual algumas pessoas com um background especial embolsem recursos estatais da noite para o dia; e que os desempregados não encontrem outro meio de vida.

Estado – O senhor acha possível continuar havendo reformas econômicas sem a contrapartida de uma abertura política?

Zhu – Não. Na verdade, a reforma da estrutura política foi mencionada e enfatizada no congresso. Certamente esse será um processo longo e gradual. Mas muito progresso tem sido feito durante estes anos.

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