Aliança de Veltroni cita indícios de fraude na Venezuela e na Argentina
ROMA – A aliança de centro-esquerda Partido Democrático (PD), derrotada nas eleições gerais italianas de domingo e de segunda-feira, sugeriu ontem que pode haver uma relação entre o grande aumento nos votos obtidos na América do Sul pelo seu adversário de centro-direita, O Povo da Liberdade (PDL), e os indícios de fraude na votação na Argentina e na Venezuela. Isso apesar de o PD, do ex-prefeito de Roma Walter Veltroni, ter saído vitorioso no exterior, elegendo sete deputados e três senadores.
O PDL, do primeiro-ministro eleito Silvio Berlusconi, ganhou, no exterior, quatro cadeiras na Câmara e duas no Senado. O Movimento Associativo Italianos no Exterior elegeu um de cada, do total de 6 senadores e 12 deputados eleitos fora da Itália.
Maurizio Chiocchetti, responsável do PD pelos italianos no exterior, fez uma comparação entre os votos obtidos pelo PDL para o Senado nessas eleições e nas anteriores, realizadas em abril de 2006. Em números arredondados, observou ele, o PDL perdeu 3 mil votos na América do Norte e 5 mil na Oceania e ganhou 4 mil na Europa. Já na América do Sul, elegeu senador Juan Esteban Caselli com 48 mil votos, o dobro do que sua aliança tivera para o Senado na região em 2006.
“Não estamos fazendo nenhuma ilação”, esquivou-se Chiocchetti, em entrevista coletiva na sede do PD. “Mas lemos nos jornais que a Magistratura (que tem funções investigativas na Itália) está investigando indícios de irregularidades na Argentina e na Venezuela, e ao mesmo tempo olhamos para essa subida impressionante nos votos do PDL nesses dois países”, completou Eugenio Marino, integrante da Coordenação Nacional do PD. Marino disse ao Estado que milhares de cédulas vindas desses países foram preenchidas com a mesma caligrafia e tinham uma coloração um pouco diferente das outras.
O PDL obteve na Venezuela 14.963 votos, ou 72,68%, para o Senado. Na Argentina, a aliança por ele liderada também foi a mais bem votada, com 59.859 votos, ou 28,97%. Já no Brasil, os resultados foram mais equilibrados. O PD foi o mais votado para o Senado, com 16.062 votos, ou 24,39%. A Associação Italianos da América do Sul veio em segundo lugar, com 16.008 (24,31%); seguida pelo PDL, com 14.964 (22,73%), e pelo Movimento Associativo Italianos no Exterior, com 14.167 (21,52%). Outros cinco partidos concorreram, e o total de votos foi de 65.842 no Brasil. Para a Câmara, o PD obteve 19.643 votos no Brasil (27,42%); a Associação, 18.357 (25,62%); o PDL, 14.277 (19,93%); e o Movimento, 13.829 (19,30%). Votaram 71.631 cidadãos italianos para a Câmara no Brasil.
Há uma semana, Luciano Vecchi, diretor de Relações Internacionais do Partido Democrático da Esquerda (PDS), que encabeça a aliança do PD, havia afirmado ao Estado que, no Brasil, “o PT e o PPS mobilizaram uma grandíssima campanha a favor do voto no PD”, e que os resultados se veriam na contagem dos votos.
Marco Zacchera, responsável do PDL pelos italianos no exterior, não quis comentar as afirmações do PD. “Não me manifesto sobre esse tema”, disse ele ao Estado. “Não sei nada sobre isso. Quem deve se pronunciar sobre a suposta fraude é a Magistratura.”
Na quinta-feira, o ministro do Interior da Itália, Giuliano Amato (do PD), informou que estavam sendo investigados indícios de que um grupo mafioso da Calábria, no sul da Itália, teria fraudado votos no exterior. Amato não deu mais detalhes, alegando que as investigações corriam em sigilo. A agência de notícias Ansa informou que se tratava de 50 mil cédulas eleitorais vindas da América Latina, alteradas em favor de um candidato siciliano, cujo nome não foi revelado.
O Ministério do Interior informou que não tem mais nada a acrescentar além do que disse Amato, e que as investigações estão a cargo da Magistratura. Por sua vez, a Magistratura informou que as investigações estão num estágio “antes do preliminar”.
O ex-primeiro-ministro Romano Prodi, que renunciou em janeiro depois de perder a maioria de uma cadeira no Senado, deixou ontem a presidência do PD. A impopularidade de seu governo, que aprovou uma lei de combate à sonegação assimilada como aumento de impostos, contribuiu para a vitória de Berlusconi sobre Veltroni, por 47,3% a 38,0% no Senado e 46,8% a 37,5% na Câmara.
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