Um dia depois de conquistar complexo petrolífero de Ras Lanuf, civis e desertores almejam chegar a Sirt
RAS LANUF – Duas semanas depois do início do levante popular contra o regime de Muamar Kadafi em Benghazi, as forças rebeldes do Exército estão se reagrupando e se deslocando em direção ao oeste, onde fica a capital, Trípoli. Centenas de soldados e de combatentes civis apoiados por peças de artilharia saíram de Benghazi e tomaram o complexo petroquímico de Ras Lanuf (380 km a oeste de Benghazi) na sexta-feira e a cidade de Bin Jawad (mais 45 km a oeste) ontem, e pretendem avançar hoje em direção a Sirt, reduto da tribo de Kadafi e terra natal do ditador, situada 550 km a leste de Trípoli.
Os soldados e o equipamento do Exército regular vão gradualmente aumentando a sua fatia na composição das forças rebeldes, ainda formadas, em sua maioria, por combatentes civis, que retiraram armas dos quartéis durante os primeiros dias do levante. Os resultados são visíveis. Os rebeldes derrubaram na sexta-feira com artilharia antiaérea um avião Sukhoi (de fabricação russa) em Ras Lanuf, segundo eles tripulados por um piloto sírio e um co-piloto líbio, que morreram.
Os combatentes disseram ontem à noite ao Estado que os moradores de Ras Lanuf, de apenas 4 mil habitantes, que vivem em função da refinaria e do porto, estavam enfrentando as forças de Kadafi com facões (que os líbios chamam de “facas brasileiras”, por causa do seu uso nas plantações de cana-de-açúcar). Quando os combatentes civis e os soldados chegaram, com peças de artilharia, granadas propelidas por foguetes, bazucas e fuzis, os integrantes das forças especiais que apoiam Kadafi, chamadas de “kataeb” (“quartéis”), bateram em retirada.
Mustafa al-Zletney, um soldado da reserva de 49 anos, contou ao Estado que, quando chegaram à refinaria, encontraram 20 membros da tribo Farjan, mortos, com as mãos atadas. “Eles foram executados porque se recusaram a disparar contra os moradores de Ras Lanuf”, afirmou Al- Zletney, e outros combatentes a seu redor confirmaram a história. Sirt é habitada por três tribos principalmente: Farjan, Megerha e Gaddadfa (do ditador).
Segundo oficiais rebeldes ouvidos pelo Estado em Benghazi, os militares das tribos Farjan e Megerha não apoiam o regime, mas suas famílias têm sido ameaçadas de morte caso eles desertem. Os Farjan são numerosos também em Tarhuna, estrategicamente situada entre Musrata, controlada pelos rebeldes, e Trípoli. Tarhuna está formalmente sob controle do regime.
As atenções agora se voltam para Sirt. Se esse porto mediterrâneo cair, acreditam os rebeldes, outras cidades que ainda estão sob o controle do regime, como Sabha, no sul, habitada pelas tribos Awlad Suleiman, Farjan e Gaddadfa, podem aderir também ao levante. Restaria, de importante, Trípoli. Ontem à noite chegou a notícia de que a liderança da tribo Warfalla, a mais numerosa da Líbia, cujo reduto é Ben Walid, ao sul de Trípoli, teria aderido ao levante, e avançaria em direção à capital.
À pergunta sobre se estão avançando para Sirt, o sargento Ibrahim al-Dressi, de 42 anos, operador de tanques, respondeu: “Vamos para Bab al-Azizia, se Deus quiser”, referindo-se ao quartel-general de Kadafi, na capital. “Não estamos mais lutando pela liberdade, mas pelas nossas vidas”, disse Mustafa Suleiman, um mecânico de caminhões de 25 anos, de Benghazi, com farda verde oliva e um fuzil Kalashnikov. “Se Kadafi retomar Benghazi, vai nos matar a todos.”
Na barreira militar erguida na entrada de Ras Lanuf havia, ao anoitecer, 30 caminhonetes dos rebeldes, 10 delas com metralhadoras artilhadas montadas sobre as carrocerias. Outros 30 carros de passeio também trouxeram combatentes, que somavam cerca de 200 pessoas. Uma peça de artilharia antitanque e outra antiaérea eram rebocadas por caminhonetes.
Em frente à barreira há uma pequena mesquita, onde muitos combatentes rezavam ao cair da noite. Alguns deles atribuíram a sua vitória a Alá, contando que, quando começaram a atirar nos soldados das forças especiais do regime, eles estavam numa posição mais alta, na refinaria, da qual podiam disparar com facilidade nos rebeldes. Começou então uma tempestade de areia (comum nesta região desértica), que bloqueou a visão dos homens de Kadafi, e os rebeldes puderam derrotá-los.
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