Isolado, Irã desenvolve satélite sozinho

“Nenhum país quis cooperar conosco”, diz gerente do projeto

TEERÃ – O Ministério da Cultura e da Orientação Islâmica, encarregado dos assuntos de imprensa no Irã, organizou ontem uma visita de jornalistas estrangeiros ao Centro Espacial Alborz. Segundo as autoridades, foi a primeira vez que jornalistas puderam entrar no centro, situado a 70 km de Teerã. Eles queriam mostrar o satélite Navid (“Boa Notícia”, em farsi), cuja terceira versão foi lançada com sucesso no dia 3, e que constitui um dos orgulhos do regime.

A apresentação começou com um vídeo,  no qual o presidente Mahmud Ahmadinejad, sobre uma música de fundo religiosa, anunciava que o código do satélite é YA Mahdi, uma referência ao “12o imam”, espécie de santo xiita que segundo a tradição tornou-se invisível e reaparecerá. “Esse feito é importante porque, se você está presente no espaço, é sinal de poder e capacidade, e também para tornar a vida melhor”, explicou o gerente do projeto, Mojtaba Soradeghi.

Segundo ele, o Irã é o décimo país do mundo a dominar a tecnologia de fabricação e lançamento de satélite. Soradeghi disse que a tecnologia foi toda desenvolvida no próprio Irã, numa parceria entre o Centro Espacial e três universidades do país. “Procuramos todos os outros países que detêm essa tecnologia, mas nenhum quis cooperar conosco”, afirmou o gerente. “Então resolvemos projetar e fabricar tudo aqui mesmo.”

A narrativa e o orgulho exibidos seguem a mesma linha do programa nuclear iraniano, alvo de suspeitas de que teria fins nucleares, também negados pelo governo iraniano. Um repórter perguntou se o satélite tinha uso militar. Soradeghi assegurou que não, que ele serve para as telecomunicações, sensoriamento remoto e pesquisas na área de astronomia. À pergunta sobre se o equipamento possibilitava monitorar outros países, o gerente respondeu: “Sim, mas nós monitoramos só o Irã.” Seu campo de visão é de 100 km. A previsão inicial é a de que ele duraria na atmosfera 40 dias, mas agora se espera que essa duração seja de 2 meses. Uma quarta versão será lançada nos próximos 6 meses.

O Ministério organizou também uma visita dos jornalistas ao Instituto Royan, que realiza pesquisas com células-tronco – outro orgulho nacional. Fundado em 1991, o instituto atende casais com problemas de fertilidade, e tem possibilitado o nascimento de 4 mil bebês por ano, além de fazer clonagem de cabras, ovelhas e bezerros. Com esse outro feito, o governo iraniano procura mostrar a adequação da religião islâmica com o avanço tecnológico – enquanto o Ocidente cristão discute se é ético ou não usar células-tronco.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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