Abbas pede reinício do processo de paz

Presidente da Autoridade Palestina busca apoio de Bush para diálogo com Israel; EUA retomam ajuda

RAMALLAH – A Autoridade Palestina (AP) lançou ontem uma ofensiva em várias frentes para consolidar o seu controle sobre a Cisjordânia, sob a liderança da facção moderada Fatah e um novo gabinete ‘independente’, sem a participação do grupo fundamentalista Hamas. O presidente Mahmud Abbas pediu ao presidente dos EUA, George W. Bush, a retomada das negociações de paz com Israel. Aos israelenses, por sua vez, o Fatah pediu que não o atrapalhe a esmagar o Hamas na Cisjordânia. A AP admite que não tem condições militares de recuperar a Faixa de Gaza.

‘Abbas disse a Bush que este é o momento para retomar as negociações políticas e reavivar a esperança do povo palestino’, contou o porta-voz Nabil Abu Rudeineh, após uma conversa pelo telefone entre os dois presidentes, na manhã de ontem. Bush, que se reúne hoje em Washington com o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, recebeu bem o pedido. ‘O importante é que é preciso ter um parceiro comprometido com a paz, e nós acreditamos que o presidente Abbas o seja’, disse Tony Snow, porta-voz da Casa Branca. ‘Estamos comprometidos a trabalhar com esse novo governo de emergência.’

Os EUA e a Europa prometeram restabelecer a ajuda econômica direta à AP, depois da destituição, na semana passada, do primeiro-ministro Ismail Haniyeh, líder do Hamas. Da mesma maneira, Israel deve repassar à AP US$ 562 milhões em impostos retidos dos palestinos. Desde que o Hamas assumiu o governo em março do ano passado, depois de vencer as eleições de janeiro, a ajuda e o repasse foram interrompidos pelo fato de o grupo fundamentalista, apoiado pelo Irã e pela Síria, não reconhecer a existência de Israel e promover atentados.

Em mais um passo para desmantelar a infra-estrutura militar do Hamas e isolá-lo do poder na Cisjordânia, Abbas dissolveu ontem o Conselho de Segurança Nacional e nomeou um novo sem a presença do grupo fundamentalista. Diante das desavenças causadas pela manutenção do monopólio do Fatah sobre as forças de segurança, o conselho nem sequer chegou a se reunir no último ano e meio.

Abbas nomeou a si mesmo presidente do órgão, que também é integrado por Mohamad Dahlan, o principal comandante das forças do Fatah em Gaza. Dahlan fugiu para Ramallah, depois da violenta tomada do território pelo Hamas, na semana passada, que deixou mais de cem mortos. Fontes da Fatah disseram à agência EFE que o líder do grupo em Gaza, Ahmad al-Jabari, e o das Brigadas Ezzedine Al-Qassam, Ahmed Hiles, chegaram ontem a um acordo para governar o território. A informação não pôde ser confirmada.

De acordo com o jornal Jerusalem Post, dirigentes do Fatah pediram que o Exército israelense suspenda as operações contra seus grupos armados na Cisjordânia, para que eles possam atuar livremente. O apelo, segundo o jornal israelense, foi feito por meio de funcionários americanos e europeus que se reuniram nos últimos dias com vários líderes do Fatah. ‘Israel tem de nos ajudar a nos livrar do Hamas’, teria dito um dirigente da facção palestina. ‘Tem de parar de nos perseguir, para que possamos ter êxito em nossa missão.’

Numa entrevista coletiva ontem em Ramallah, o Estado perguntou ao novo ministro da Informação e da Justiça, Riyad el-Malki, como o governo de emergência, que tomou posse no domingo, pretendia impor sua autoridade sobre Gaza. ‘Vamos nos reconectar com a população restabelecendo os serviços básicos, garantindo o abastecimento e pagando os salários’, disse El-Malki, admitindo que para isso precisam da cooperação de Israel.

‘Não vamos usar de violência’, descartou, depois da primeira reunião do novo gabinete. ‘Não temos condições de tomar Gaza militarmente.’ O novo ministro do Interior, Abdel-Rzzak Yahya, respondeu assim à mesma pergunta: ‘Juro por Deus que não sei.’

O Exército de Israel autorizou ontem a distribuidora Dor Alon a retomar o fornecimento de combustível para a Faixa de Gaza, que tinha sido cortado no fim de semana. Mas a fronteira continua fechada à passagem de pessoas e produtos. Centenas de palestinos se aglomeram no posto de fronteira de Erez, tentando, em vão, sair. Pelo menos uma pessoa morreu e dez ficaram feridas num tiroteio ontem no local.

Segundo o jornal Haaretz, Israel perde US$ 2 milhões por dia com a suspensão do fornecimento de combustível, laticínios, frutas e alimentos para Gaza. Já os palestinos perdem US$ 1 milhão por dia, na venda de frutas, verduras e e têxteis para Israel.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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