Milhares de sunitas levam apoio a Siniora em Beirute

Governo diz que não cederá ao Hezbollah; Igreja Maronita propõe eleição presidencial antecipada

BEIRUTE – Confinado há cinco dias em um palácio cercado de barracas erguidas por seus adversários, tanques de guerra e soldados do Exército, o primeiro-ministro Fuad Siniora decidiu demonstrar ontem que não está sozinho. Milhares de lideranças locais e simpatizantes de várias partes do país fizeram uma romaria até o Grand Serail, onde Siniora e 17 ministros estão abrigados desde sexta-feira, quando o Hezbollah e seus aliados reuniram 800 mil manifestantes em frente ao palácio, exigindo a renúncia do governo.

“Quem cava trincheiras não quer a paz”, disse Siniora, diante da platéia predominantemente sunita, como ele. “São os mesmos que correram para a guerra, enquanto nós corremos para conseguir a paz”, continuou o primeiro-ministro, referindo-se ao conflito entre Israel e o Hezbollah, entre julho e agosto, desencadeado pela captura de dois soldados israelenses pela milícia xiita. O governo voltou a dizer que não atenderá as exigências do Hezbollah, que se retirou do ministério e passou a exigir a sua renúncia, depois de não obter poder de veto no gabinete.

“Nós concedemos tudo, eles poderiam participar de todas as decisões, com exceção de declarar guerra e a renúncia do governo, mas eles não aceitaram”, disse o ministro do Interior, Ahmad Fatfat. “Eles querem ter um terço mais um das cadeiras no gabinete (que garante poder de veto), mas isso não vai acontecer.”

“A representação de um terço mais um só vai beneficiar a Síria e o Irã”, disse o líder druso Walid Jumblat, arquiinimigo dos xiitas, numa referência aos dois países que apóiam o Hezbollah. Jumblat conclamou o presidente do Parlamento, o xiita Nabih Berri, cujo partido Amal é aliado do Hezbollah, a “assumir sua responsabilidade e levar o debate da rua para o Parlamento”.

O Hezbollah e seus aliados não demonstram a menor intenção de seguir esse conselho. De algumas dezenas, no fim de semana, as tendas montadas pelo grupo nas duas praças perto do Grand Serail já somavam ontem cerca de 600. Nas extremidades do acampamento, foram instalados banheiros. Um general do Exército disse ao Estado que o Hezbollah tem comida, água e logística para manter a vigília durante “meses”.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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