Em Marabá, queixas de impostos elevados

Cidade cresce vertiginosamente, e muitos moradores atribuem êxito a esforço próprio

 

MARABÁ – É difícil encontrar um marabaense em Marabá. Típico polo de atração da fronteira agrícola amazônica, essa cidade de 200 mil habitantes no sul do Pará é povoada de gente que veio de todas as partes do Brasil em busca de oportunidades na agricultura, na mineração, comércio e serviços. Esse magnetismo deu origem a uma classe média urbana empreendedora, com forte ligação com a economia rural a seu redor, que tende a atribuir seu êxito aos esforços próprios, e a ver no governo mais um estorvo que uma solução.

José Cláudio de Paula, de 38 anos, veio de Rubiataba, interior de Goiás, em 1996, depois que seu pai adquiriu uma fazenda na região. Em 2000, comprou uma parte da Casa da Roça, tornando-se um dos quatro sócios da rede de 12 lojas em 12 municípios do Pará. De lá para cá, abriram mais duas filiais e montaram uma fábrica de sal mineral. Seus clientes perto de Marabá criam principalmente gado; noutras áreas do sul do Pará, o forte é a soja.

Cláudio conta que o seu negócio cresceu entre 2002 e 2006. “Nos últimos quatro anos, estabilizou.” Ele atribui a interrupção no crescimento ao fato de a empresa ter mudado seu regime tributário de lucro presumido para lucro real. “Passamos a pagar mais impostos, temos mais ferramentas para avaliar se estamos ganhando ou não e descobrimos que nossa margem de lucro é muito pequena.”

“É normal que o governo aperte, ele tem de correr atrás do que é devido, mas, já que está arrecadando muito mais, e praticamente não existe sonegação, deveria diminuir a alíquota”, propõe Cláudio, que cursou ensino médio. “O governo tem de aprender a conviver com porcentagem menor de imposto e a devolver em serviços para o contribuinte, o que não tem acontecido.”

A única rodovia federal da região é a Transamazônica, que passa asfaltada dentro de Marabá, mas 20 km adiante prossegue de terra. “Há quantos anos a Transamazônica existe e nenhum governo resolveu o problema dela”, indigna-se Cláudio. “Continua sem pontes, esburacada, cheia de atoleiros, quase intransitável nessa época de chuva.”

Cláudio também se queixa da exigência de 80% de reserva legal nas fazendas da Amazônia. Ele lembra que a União incentivou a vinda dos fazendeiros – incluindo seu pai – e a condição para a liberação de recursos era que os proprietários desmatassem – ou “abrissem”, no jargão rural – pelo menos 50% das terras. “Era o contrário”, aponta. “Estamos sendo obrigados a assinar TAC (Termo de Ajustamento de Conduta, com o Ministério Público) para regularizar nossa criação.” Seu pai tem 800 cabeças de gado e 450 hectares. “Não é que piorou com a lei ambiental, mas precisava existir flexibilidade para deixar usar pelo menos 50% da área que foi desmatada, senão fica inviável.”

À pergunta sobre que candidato é mais sensível a esses problemas, Cláudio responde: “Talvez hoje o que seria mais sensato – não vou dizer ‘melhor’ – é o José Serra, que tem capacidade de implantar políticas viáveis para manter esse pessoal no campo. Dilma e Marina não têm conhecimento de causa.”

É comum ouvir essas queixas em Marabá. “Tem uma política ambiental contra nós”, acusa o empresário Seme Alcici Assaf, de 49 anos, distribuidor de frango e de embutidos, com 936 clientes espalhados por 30 municípios da região. “O Ibama nos trata como marginais. Dizem que está destruindo a mata, mas o americano não destruiu a dele?”

Seme aprova o governo Lula, por causa da repercussão do aumento do crédito, do emprego e do poder aquisitivo nos seus negócios. “Voto em quem gera emprego. Meu negócio é vender meu produto”, explica. “Esse negócio de mensalão, tenho mais o que fazer do que ficar olhando o que o governo está fazendo, se estão roubando. Um dia prestarão contas com Deus.” Seme votou em Serra em 2002 e em Lula em 2006, porque gostou do primeiro mandato. “Não pensei que ele fosse tão bom.” Ele se identifica com o presidente: “Lula é peão igual eu. Saiu do nada.”

Marabá foi uma das cidades que mais cresceram no Brasil nos últimos anos. Na Avenida Tocantins, no bairro Cidade Nova, onde seis pessoas se reuniram na padaria City Pão para conversar com o Estado, os preços dos aluguéis de apartamentos se equiparam aos de São Paulo.

A catarinense Cíntia Alves de Moraes, administradora de empresas de 36 anos, veio em 2007 de São Paulo, onde trabalhava na cooperativa de ônibus Nova Aliança, atendendo a um convite para implantar o bilhete eletrônico na cidade. “Nesse período, Marabá mudou muito”, testemunha Cíntia. Mas ela não vê nisso papel do governo. “O desenvolvimento da cidade é de interesse dos empresários, e não dos governos”, diz Cíntia. “O governo federal é falho, principalmente na saúde, na educação e na corrupção”, critica Cíntia, que tem empresa de eventos em Marabá. Ela votou em Serra em 2002, em Geraldo Alckmin em 2006 e voltará a votar em Serra este ano. “Não confio na Dilma. Ela é só fantoche de Lula.”

A City Pão começou com uma pequena padaria em 2005. Hoje é uma rede de três padarias e restaurantes e uma fábrica de pão. “Acho errado dizer que o governo não tem papel nisso”, discorda Nádia, de 41 anos, irmã de Cíntia e gerente da City Pão. “Tudo o que o governo faz reflete no bolso. O governo Lula teve um lado legal, de incentivo ao pequeno agricultor. Criou oportunidades para produzir, mas muitos preferem viver às custas do governo.” Formada em administração, ela votou em Serra em 2002 e em 2006 justificou. Este ano ainda não sabe em quem vai votar. “Vamos ouvir as propostas.”

A grande expectativa em Marabá gira em torno da implantação de uma nova siderúrgica, a Aços Laminados do Pará, investimento de US$ 3,7 bilhões da Companhia Vale do Rio Doce, que deve ficar pronta em 2013. “Vão fazer outra cidade aqui dentro”, aposta Seme. “ É outro Eldorado (dos Carajás), outra Serra Pelada.”

Dyego Santana Reis, de 20 anos, estudante de engenharia ambiental na Universidade Federal do Pará, critica o processo de licenciamento ambiental da siderúrgica e teme por seu impacto ambiental e social. Dyego critica também o desempenho da governadora Ana Júlia Carepa (PT) nas áreas da saúde, da educação e da segurança pública. Isso influi na sua visão do governo federal: “A governadora é petista, e o presidente, também.” Ele tem “simpatia” por Serra, mas acha “prematuro” dizer que votará nele.

No ano passado, sua irmã, Thaynara, de 24 anos, fez estágio de 240 horas num posto de saúde de Imperatriz, no Maranhão, onde se formou em nutrição, e saiu desiludida com as políticas sociais do governo. Ela diz que viu mães falsificando o peso de seus filhos para continuar recebendo o Bolsa-Família, e observou que as crianças ficam apenas meio período na escola, e no outro vão “pedir esmola”. Thaynara queixa-se também do serviço de saúde. Ela justificou o voto em 2006 e não sabe em quem votará. “As propostas são lindas, é tudo muito fantasiado.” Só sabe que não votaria em Lula: “Acho que o Brasil merece coisa melhor.”

A visão do cirurgião plástico Marcello Nunes Alves, de 39 anos, também é prejudicada por sua impressão da governadora: “O governo estadual do PT está muito ruim, em todos os sentidos.” Na sua área, a melhora que ele viu foi a criação dos hospitais regionais, para tratar casos complexos, antes encaminhados para Belém. Mas diz que foi iniciativa do governo anterior, do PSDB. Há quatro anos, Marcello votou em Alckmin, e este ano votará em Serra. “O Brasil está bom para quem é menos favorecido”, diz o cirurgião plástico. “Quem tem paga muito imposto.” 


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