Os especialistas em fraude e corrupção nas empresas estão certos de duas coisas: o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), ao liquidar instantaneamente as transferências bancárias, traz grande eficiência à gestão do capital de giro.
Mas aumenta, igualmente, a velocidade com que os fraudadores poderão escapar com o produto de seus desfalques. A compensação só na noite seguinte dava às vítimas tempo de telefonar para o gerente do banco e sustar cheques desviados. Agora, quando os cheques chegarem aos bancos na forma de depósitos, serão imediatamente pagos.
“O SPB vai dar margem para muita fraude”, diz James Wygand, do Control Risks Group. “O único recurso passará a ser a Justiça.”
Um dos esquemas beneficiados será o do desvio de pagamentos de contas e tributos das empresas. Em vez de efetuar o pagamento no banco, os motoboys envolvidos nesse esquema levam guias para pagamento e cheques para um local onde a quadrilha tem instaladas máquinas que reproduzem a autenticação dos diversos bancos. Os cheques são endossados e depositados em contas de empresas abertas durante dois ou três meses com esse fim, e o dinheiro é distribuído entre os integrantes do esquema.
Marcelo Gomes, da GBE Peritos e Investigadores Contábeis, teve seis clientes lesados dessa maneira. “O menor valor foi R$ 1 milhão.” Os pagamentos desviados são de guias da Previdência Social e de ICMS de grandes empresas, além de contas telefônicas de companhias de transmissão de dados.
Muitas vezes, os esquemas contam com a conivência dos gerentes de bancos – peças-chave para detectar lavagem de dinheiro. De acordo com Wygand, quem pratica fraudes nas empresas acaba se envolvendo, para encobrir o produto dos desfalques, com redes de lavagem de dinheiro, doleiros e narcotráfico.
Entretanto, a alta concentração no sistema bancário brasileiro dificulta a detecção de movimentações suspeitas de dinheiro. Nos Estados Unidos, há 12 mil bancos; no Brasil, menos de 200. “Uma coisa é acompanhar 15 mil contas correntes; outra é acompanhar 2 milhões. Simplesmente não se acompanha”, diz Marcelo Gomes.
“Não sei por que se seqüestra ou se rouba banco neste país”, afirma o investigador. “Quem faz isso se arrisca a levar tiros, por uma quantia, por exemplo, de R$ 60 mil. Já praticar um estelionato contra uma empresa pode render R$ 300 mil, para cada um.” Sem perigo de sair ferido. O máximo que costuma acontecer ao fraudador flagrado é a demissão. As empresas não têm ânimo nem meios de levá-lo até a Justiça.