Mulher dirigirá campanha de Lagos para 2º turno

Ministra da Justiça deixa cargo para buscar votos femininos e da Democracia Cristã

 

SANTIAGO – O presidente Eduardo Frei, alarmado com o avanço da oposição de direita, destacou ontem um de seus auxiliares mais importantes para comandar a campanha do candidato da coalizão de governo, Ricardo Lagos. A ministra da Justiça, María Soledad Alvear, renunciou ao cargo para integrar o comando da campanha de Lagos para o segundo turno da eleição presidencial, dia 16 de janeiro.

Alvear se juntará a uma equipe aturdida pelo vigoroso desempenho de seu adversário, o direitista Joaquín Lavín, no primeiro turno, no domingo. Lagos, que pensava eleger-se já no primeiro turno, com mais da metade dos votos válidos, obteve 47,96%, apenas 30 mil votos a mais que Lavín, com 47,52%.

Desde a restauração da democracia, há uma década, foi a melhor votação da direita e a pior da coligação Concertación, que reúne a Democracia Cristã (DC), o Partido Socialista (PS) e o Partido pela Democracia (PPD) e tem governado o Chile nesse período.

Alvear reúne as três características necessárias para suprir os pontos fracos identificados na campanha de Lagos: é democrata-cristã, mulher e conduziu uma área do governo que teve êxito.

Parte dos eleitores da DC, depois de votar nos candidatos democrata-cristãos Patricio Aylwin, em 1989, e Eduardo Frei, em 1993, preferiu Lavín ao candidato do PS. Foi a primeira vez que a DC não saiu com candidato próprio à presidência desde sua criação, em 1958. Alvear, mulher do presidente da DC, Gutenberg Martínez, tem a missão de reconquistar esses votos.

Além disso, 50,59% das mulheres votaram em Lavín e 45,36%, em Lagos. “As mulheres chilenas são mais conservadoras que os homens e mais sensíveis ao problema da criminalidade”, diz o cientista político Ricardo Israel, da Universidade do Chile. O combate ao crime e às drogas foi um dos eixos da campanha de Lavín – e é a área de Alvear, que também foi ministra da Mulher, no governo Aylwin (1990-94).

Alvear conduziu o programa considerado o mais bem-sucedido do governo Frei: a reforma da Justiça, que obteve apoio consensual do Congresso e da Corte Suprema. Lagos espera que o êxito representado pela ministra contrabalance o fardo que ele carrega como candidato do governo, em meio aos efeitos da crise financeira internacional – sobretudo a desvalorização do real -, que causou recessão e aumentou o desemprego no Chile.

“O que se define daqui a algumas semanas é de enorme importância para o Chile e por isso o presidente me deu licença para trabalhar no comando de Lagos”, disse ontem Alvear, que será substituída pelo subsecretário de Justiça, José António Gómez.

A ministra deve ocupar o espaço do diretor-executivo do comando, Genaro Arriagada, que afetou a credibilidade da campanha ao reafirmar, às 18 horas de domingo, quando a apuração dos votos indicava estreita margem de diferença entre os dois candidatos, que Lagos se elegeria já no primeiro turno.

 

 

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