Escolas não se prepararam para mudanças e inclusão

Professores continuam dirigindo-se a minoria predisposta a aprender e intelectualmente dócil.

Nos últimos anos, o ensino no Estado de São Paulo experimentou um dramático movimento de inclusão. A expansão do número de vagas levou, entre 1995 e 2000, à quase duplicação dos alunos matriculados: 99% das crianças de 7 a 14 anos e 94% dos jovens dos 15 aos 17 estão hoje na escola. A contenção da repetência e da evasão fez com que esses alunos não só se matriculassem, mas ficassem na escola.

Com isso, as crianças e jovens que normalmente ficavam do lado de fora – os mais pobres ou os mais expostos a problemas familiares – passaram para o lado de dentro do muro das escolas. Ao mesmo tempo, houve mudanças de geração e de tecnologia da informação que tornaram crianças e jovens mais exigentes quanto à qualidade do ensino e menos tolerantes com atitudes autoritárias.

O aumento da violência e a deterioração da qualidade do ensino são resultado disso – ou melhor, da incapacidade das escolas de atender a essas novas demandas. A maioria dos professores nas escolas públicas continua escrevendo a matéria na lousa e impondo disciplina aos alunos sem diálogo nem explicações – atitudes que contrastam asperamente com a realidade das crianças e jovens, que, ainda que pobres, têm acesso pelo menos à televisão.

“A escola continua no século 16”, resume Rose Neubauer, secretária da Educação do Estado entre 1995 e abril deste ano. A referência de disciplina em vigor ainda é a dos jesuítas, que impunham o sofrimento e a penitência como formas de elevação espiritual. Hoje, para bem ou para mal, os jovens com melhor potencial de aprendizado não engolem o que não lhes seja devidamente apresentado e justificado. Os outros não se interessam o suficiente sequer para oferecer oposição: apenas ignoram.

As escolas públicas de décadas atrás, objeto de reminiscência idílica, por sua qualidade e disciplina incomparáveis às de hoje, atendiam 50% das crianças e 30% dos adolescentes. O ingresso na escola era um processo de seleção quase natural dos meninos de família estruturada e pelo menos remediada, cujos pais lhes incutiam desde cedo o imperativo de estudar. Os outros não atravessavam o portão.

Claro que havia bons e maus alunos. Mas a ampla inclusão dos últimos anos alargou enormemente o conceito de “mau aluno”. Enquanto isso, o professor ficou estacionado lá atrás, pressupondo uma disposição de aprender que agora é de uma pequena minoria e imaginando um público intelectualmente dócil, que não existe mais.

“Os professores falam de Emília Ferrero, Paulo Freire e (Jean) Piaget”, diz Rose Neubauer, citando os pedagogos modernos, “mas, na hora da prática, é na base da tábula rasa.” Ou seja, como se o aluno fosse uma caixa vazia, a ser enchida com conhecimentos.

Além disso, aponta a educadora Guiomar Namo de Mello, os professores não são treinados para aquilo que hoje em dia é um dos atributos mais necessários numa escola: “Não sabem mediar conflitos, não sabem lidar com a diferença.” O resultado são professores enfrentando alunos na sala de aula. Com dois resultados possíveis: a apatia do aluno ou a humilhação do professor.

Ainda assim, os crimes cometidos nas escolas representam 0,04% daqueles que ocorrem no Estado de São Paulo, de acordo com o secretário da Educação, Gabriel Chalita.

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